segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que estou ouvindo

Devido à correria dos últimos dias, não consegui ainda escrever a terceira parte de "Os Cigarros de Mr. Darcy". Mas para não deixar o blog mofando vou entrar na onda das listas do que ando ouvindo nos últimos dias. É mais rápido e fácil. Quer dizer... pensei que seria, mas como sempre estou ouvindo muita coisa, tive que selecionar bastante. Quase podia colocar uma lista com os CDs que ando ouvindo, mas vou deixar isso para uma próxima. Assim, tive que ser bem rigoroso e só colocar aquilo que mais tocou no meu media player nessas últimas semanas. Ficou uma lista de treze músicas com duas bonus track. Estão em ordem aleatória, sem nenhum tipo de prioridade.

1 - A Little Piece – The Jezabels
2 - Prayer for the paranoid – Mojave 3
3 - Shut your eyes – Snow Patrol
4 - Cellos Song – Nick Drake (na versão de The Books and Jose Gonzalez)
5 - One of these things first - Nick Drake
6 - Things Behind the sun - Nick Drake
7 - Madder Red – Yeasayer
8 - 40 day dream – Edward Sharpe & The Magnetic Zeros
9 - Home – Edward Sharpe & The Magnetic Zeros
10 - Steam Engine – My Morning Jacket
11 - Librarian – My Morning Jacket
12 - Needles in My Eyes – The Beta Band
13 - Dry the rain – The Beta Band
14 - Hundreds of Languages – GangGajang
15 - Golden Slubers/Carry That Weight/The End - Beatles

Tá, eu trapaceei. Essa última são três músicas, mas se você ouvir bem vai ver que até dá pra considerar como uma só.

sábado, 16 de abril de 2011

Os Cigarros de Mr. Darcy - Parte II

II

Enquanto a carruagem seguia seu trajeto, Mr. Darcy pensava na resolução que havia tomado. O seu casamento era o último, entre todos os conhecidos, que ele imaginaria dar qualquer tipo de problema. Não porque tendemos a sempre achar que as coisas na nossa vida estão melhores do que na dos outros, mas porque realmente não via como sua paixão por Lizzy pudesse arrefecer.

Por exemplo, quanto a Bingley e Jane, ele já esperava que começassem a ter dificuldades assim que a vida adulta realmente os atingisse. Eram dois sonhadores românticos e ambos com personalidades muito fracas; logo estariam vivendo com problema de não haver um pulso forte que conduzisse a relação. Não o impressionou sua última visita ao casal, quando notou como mal podiam agüentar ficarem juntos no mesmo cômodo; havia algo como um fastio no casal. Bingley reclamou-lhe que não agüentava mais o silêncio e falta de imaginação da moça, enquanto para Lizzy, Jane protestou a falta de firmeza do marido e sua indisposição ao silêncio. Ainda assim, Darcy sabia que os dois permaneceriam juntos e arranjariam formas de melhorarem sua convivência, pois, justamente por serem fracos, não teriam coragem para tomar uma atitude mais drástica, assim como ele estava tomando. Ele sabia como as regras da sociedade pesavam sobre os ombros e a mente dos dois, mesmo que elas já tivessem mudado um pouco nesses anos todos.

Porém, podia dizer que Lydia e Wickham surpreenderam-no: o único casamento a ter realmente dado certo e se mantido firme; pareciam estar cada vez mais unidos. Tentava entender como, mas sua dificuldade em obter uma resposta dava-se pelo fato de não conhecer uma regra muito básica: todo homem, por mais incorreto, desregrado e interesseiro que seja, vai ser, um dia, amarrado por uma mulher que tenha as mesmas qualidades e, ainda por cima, seja muito apaixonada. E, por mais repreensões que pudessem recair sobre Lydia, era certo que ela havia se tornado uma mulher exatamente da estirpe mencionada. Sua paixão, seu gênio rebelde, que levava àquelas atitudes muitas vezes reprováveis, e sua alegria juvenil certamente a transformavam em uma parceira ideal ao rapaz. A única coisa que Darcy conseguia pensar sobre aquilo era que justamente as loucuras cometidas pela menina haviam mostrado a Wickham com quem ele estava tratando: alguém da sua espécie, o que, além de tê-lo feito apaixonar-se, ainda o deixou bastante comportado. Não podemos dizer que Darcy estava errado, pois sua dedução, de certa forma, é corroborada pela regra.

Darcy, ao chegar a uma primeira parada, achou que por mais que pudesse tentar encontrar desculpas, não havia nada que o isentasse da culpa por aquela situação. Lizzy não havia mudado seu jeito de ser, nem seus sentimentos para com ele. O problema era realmente a natureza do homem e o fato de ele não conseguir fugir dela.

Ao mesmo tempo, por uma dessas brincadeiras do destino, ou justamente por suas conjunções mentais tão próprias, Elizabeth Darcy refletia no mesmo ponto: por que, de todas as suas irmãs, justo com ela estava acontecendo aquilo? Afinal, ela sabia que no caso de Jane e Bingley seria apenas uma crise; o amor dos dois seria maior. Lydia não a surpreendera exatamente, ainda assim nunca os imaginara o casal ideal como eram agora, mas estava feliz com isso. Mary podia ter deixado sua mãe revoltada com aquela atitude, pois não era algo apropriado a uma moça, mas Lizzy – assim como seu pai – sabia que aquele era o único destino para ela: não casar, abandonar o lar para estudar por conta própria e sair viajando pelo mundo fazendo pesquisas científicas por lugares exóticos. E ela, afinal, estava feliz, agora, junto daquele inglês que viajava em um navio com nome de raça de cachorro. Como era mesmo nome do rapaz? Charles? Algo assim. Apesar de aquela situação causar certo escândalo, pois o jovem é trinta e dois anos mais moço do que ela, Mary havia garantido-lhe, em sua última carta, que a relação dos dois era como de irmãos, e que havia um respeito mútuo, entre dois amantes das ciências naturais.

Além disso, foi Mary quem salvou a situação de Kitty, que começava a ficar para titia, ao ceder um marido à irmã. Ele era um americano muito rico, também dedicado a estudos, com quem Mary teve algum tipo de relacionamento íntimo durante suas viagens, até decidir que casar era para outro tipo de mulher e que sua irmã mais nova certamente faria mais proveito de um marido. Apresentá-lo a Kitty e preparar o terreno para a união acabou sendo uma decisão puramente lógica. Tal casamento, por sinal, era o que Lizzy tinha menos notícias, pois eles, obviamente, moravam nos Estados Unidos, mas a última notícia dava conta de que estavam bem e com filhos.

Lizzy pensava nas suas irmãs e seus respectivos destinos não só pela situação em que se encontrava, mas também por conta da troca de cartas com Jane, através da qual tentava encontrar pistas do paradeiro de seu marido; sabia que o melhor amigo dele deveria saber algo. Porém, a última carta recebida causou mais revolta do que esperança em seu espírito, devido à parcimônia do cunhado para com o ingrato Mr. Darcy. E ela não podia mais esperar para escrever uma resposta a Jane.

Continua... (no próximo capítulo, a carta de Lizzy, e uma pista de Mr. Darcy)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os Cigarros de Mr. Darcy - Parte I

I

É uma verdade universalmente conhecida que um homem em posse de boa fortuna e com mais de cinqüenta anos deve estar em busca de uma amante que seja bons anos mais nova do que ele.

E, por muito que seus sentimentos e pensamentos sejam conhecidos, sua mulher sempre será a última a notar isso.

Por que deveria ser diferente com Mr. Darcy?

Certo dia, ele olhou para sua amada Lizzy e viu uma matrona já passada dos quarenta, cuidando da postura da pequena Charlote – a mais nova e única menina entre seus quatro viçosos rapazes. Sua esposa ainda tinha aquele olhar e inteligência que tanto o conquistou; porém, se, quando estamos com nossos quase trinta anos – idade de Mr. Darcy ao se apaixonar por Lizzy –, tais elementos importam tanto quanto a beleza, com o passar do tempo e a com convivência eles vão perdendo em importância. Ao chegar aos cinqüenta, exatamente como Mr. Darcy chegara, um homem busca uma mulher de carnes mais firmes, de olhos mais lascivos, de cheiro ainda virginal e com muita energia. Sua cara Lizzy, após cinco filhos, já não tinha mais nenhuma dessas qualidades; muito pelo contrário, parecia agora ser mais velha do que ele.

Mr. Darcy teve uma idéia imprescindível ao analisar todas essas questões. Imediatamente largou a pena que já não usava mais, pois não conseguia se concentrar na carta que escrevia, levantou-se e foi até seu cofre.

Elizabeth estava com a pequena Charlote e a preceptora na sala de estudos lendo algum livro enquanto a filha pintava uma cesta de frutas, quando ouviu a porta se abrir.

- Querida, sairei uns minutos para comprar cigarros – anunciou seu marido.

Imersa que estava em sua leitura e na apreciação da sua pequena aprendendo mais um dos muitos dotes que ela não pode aprender na sua infância, Elizabeth Darcy apenas respondeu positivamente com um muxoxo, sem nem mesmo dar atenção a todas as implicações desastrosas daquele anúncio estranho e misterioso. Esses adjetivos, inclusive, nem mesmo passaram por sua cabeça no momento do enunciado de Mr. Darcy, mas ocorreram-lhe horas depois, quando já era noite e ele ainda não havia voltado.

Elizabeth estava em desespero. Os empregados já haviam voltado de Lambton onde não obtiveram nenhuma notícia de seu marido. Obviamente, o primeiro e rápido pensamento que passara por sua cabeça, quando a tarde começou a se estender sobre Pemberley e seu marido não voltara, foi que poderia ter acontecido alguma desgraça com ele, por isso mandara os homens em sua busca. Mas fora só eles saírem, e ela conseguir se acalmar um pouco para poder colocar seus pensamentos em ordem, que tudo pareceu mais claro. Era obvio! Seu marido não fumava, e mesmo que, por algum desses caprichos misteriosos e fúteis que atingem homens velhos e entediados, lhe tivesse, repentinamente, nascido tal vontade, ele mandaria algum empregado a comprar os objetos desse capricho.

Elizabeth teve confirmada sua suspeita com o retorno dos empregados, e uma repentina luz acendeu em sua cabeça; correu até o escritório de Darcy, onde ficava o cofre, e foi diretamente a ele. Ali estaria a confirmação de todas suas intuições sobre o caso. E, ao abri-lo, ela não teve surpresa nenhuma.

Continua.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma História Simples Três - As Histórias que Nos Contavam

Um homem de trinta e seis anos e outro de sessenta e cinco estão sentados em frente ao bonito fogão a lenha, de ferro fundido escuro e bem trabalhado. Eles sorriem e tomam chimarrão. Enquanto isso, o mais velho relembra algumas das histórias que contava àquele seu filho.
“Lembro de uma vez. Quando a gente ainda morava no interior de Santa Maria, eu acho. Não sei como um espelho apareceu quebrado em cima do telhado da casa, e teu vô me mandou subir pra limpar. Eu era o mais velho dos sete filhos e tinha de fazer essas coisas. Eu subi e comecei a varrer os caquinhos, pois estava bem quebrado. Bem espatifado. Foi quando tuas tias, não lembro, mas acho que era a Marcela e a Doris, mais umas amiguinhas delas, vinham vindo e viram aquelas coisinhas brilhantes caindo do telhado, e me perguntaram o que era aquilo. Eu disse que era o pedaço de uma estrela que tinha caído por aí. E que uma parte caíra no telhado. Elas olhavam desconfiadas para os cacos brilhantes no chão e não acreditavam. Daí uma delas, que era mais esperta, perguntou se não era um espelho e eu retruquei, mas como um espelho ia ter parado lá em cima? E elas, então, ficaram olhando pra mim, piscando com olhos assustados, mas acreditando na história da estrela.”

Ele ri gostoso, olhando para as mãos enrugadas sobre os joelhos e se arruma na cadeira para poder receber a cuia. E é a vez do homem mais novo falar:
“Tem as histórias da mãe, também. Mãe vem cá. Senta aqui e conta alguma coisa.”

Uma senhora também de sessenta e cinco anos traz um mochinho e senta-se entre os dois. Arruma os cabelos curtos e levemente grisalhos, e fica sem saber para onde olhar.
“Ah, mas eu nem tenho histórias. Desse tipo assim, eu não tenho.”
“Conta aquela das libélulas, então, mãe.”
“Mas aquilo nem história é. Era só uma brincadeira das crianças lá da rua. Quando os pais cortavam a grama, enchia de libélula nos pátios e nós saíamos a caçar. Depois que cada um tinha a sua, a gente amarrava uma linha nelas e depois soltava a libélula, e ficava segurando a linha. Às vezes ficava uma fileira de criança cada um segurando sua linha com uma libélula e vendo qual voava mais alto. Mas isso nem é história. Era só uma brincadeira nossa.”

Então, o velho ri e diz, com as bochechas repuxadas:
“Brincadeira malvada, isso sim.”

“Não é? Agora conta aquela da grama, querido.”

Ele da mais uma risada jogando a cabeça para trás e começa:
“Essa é boa. Isso era quando eu já estava noivo da tua mãe e era quem sempre arrumava e plantava o jardim do pai dela. E o teu primo Dinho tinha que ajudar. Era um mulecote ainda. Às vezes, ele tinha que passar um tempo comigo, metido nuns lodaçais danados, ajuntando terra e adubo. E depois ainda agüentar ficar plantando grama e flor no pátio da frente. Pra espantar um pouco o mau humor eu inventei que elas eram sensíveis e só cresciam bonitas quando plantadas com música, e que ele tinha de assoviar pra elas enquanto plantava por que se não elas não cresciam e ele ia ter de plantar tudo de novo. Daí ele se colocava a plantar e assoviar junto. E as tuas tias desatavam a rir do coitado que acreditava nas histórias. Um dia, a irmã mais velha dele, que já não acreditava nas minhas histórias, plantou uma flor num dos canteiros e não assoviou. Depois as flores tinham morrido e o moleque veio correndo pra mim pra dizer que a irmã não tinha assoviado enquanto plantava e por isso as plantas dela morreram.”

E mais uma vez ele riu gostoso ao acabar, dessa vez, acompanhado das risadas dos outros dois. Então, o homem mais novo se vira para o notebook sobre a mesa na frente deles e fala com o garoto que aparece na tela.
“E aí filho? Essas são algumas das histórias que eu ouvia quando criança. Tá bom assim, ou precisa mais?"
“Não pai. Tá bom. Brigado. Vou embora. Que fala com a mãe?”
“Não filho. Não precisa.”
“Então tchau pai.”
“Tchau filho. Beijo. Te cuida..."

Mas o garoto já havia desligado o skype após o tchau e deixado o homem com uma nítida sensação de frio, apesar do calor que do fogão à lenha emanava para toda a sala.

Redação da Escola

Era uma ves uma cidade um monte estranha. E um menino foi mora na cidade estranha. Um dia o menino entrou na rua onde morava. E na rua tinha monte de menina segurando linha com libélula na ponta.

O menino achou estranho. Ele foi pedir pra menina o que era aquilo. A menina disse:
- Nos somos bruxas. Nos fazemos meninos virar libélula. Agora nos tamos treinando as libélulas pra corrida das libélulas. Você não sabia?

O monte de menina riu do menino. Aí o menino ficou brabo com o monte de menina e foi embora.

O menino tinha um pai muito legau. E o pai do menino contava monte de história. O menino ajudava o pai fasendo tudo. Um dia o pai disse:
- Você tem um poder mágico. E você tem que assobiar pra grama quando planta ela. Pra ela crecer um monte e bonita.

Aí o menino assobiou e plantou grama. E o monte de menina riu do menino mais uma ves.

Um dia o menino teve uma ideia. E ele quebrou um espelho no teto da casa. E o pai mandou ele limpa. Aí o monte de menina viu e pediu o que era. E o menino disse:
- É uma estrela que caiu aqui.

Mas o monte de menina não acreditou e disse:
- Mentira. Isso é um espelho.

E o menino disse:
- Um espelho nunca ia cai aqui!

Aí o monte de menina ficou com medo. E o menino disse:
- Eu sou um bruxo que faz menina vira estrela. E a menina que ri de mim eu viro em estrela e derrubo lá de cima.

E o monte de menina ficou com medo e nunca mais riu do menino.