sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os Cigarros de Mr. Darcy - Parte I

I

É uma verdade universalmente conhecida que um homem em posse de boa fortuna e com mais de cinqüenta anos deve estar em busca de uma amante que seja bons anos mais nova do que ele.

E, por muito que seus sentimentos e pensamentos sejam conhecidos, sua mulher sempre será a última a notar isso.

Por que deveria ser diferente com Mr. Darcy?

Certo dia, ele olhou para sua amada Lizzy e viu uma matrona já passada dos quarenta, cuidando da postura da pequena Charlote – a mais nova e única menina entre seus quatro viçosos rapazes. Sua esposa ainda tinha aquele olhar e inteligência que tanto o conquistou; porém, se, quando estamos com nossos quase trinta anos – idade de Mr. Darcy ao se apaixonar por Lizzy –, tais elementos importam tanto quanto a beleza, com o passar do tempo e a com convivência eles vão perdendo em importância. Ao chegar aos cinqüenta, exatamente como Mr. Darcy chegara, um homem busca uma mulher de carnes mais firmes, de olhos mais lascivos, de cheiro ainda virginal e com muita energia. Sua cara Lizzy, após cinco filhos, já não tinha mais nenhuma dessas qualidades; muito pelo contrário, parecia agora ser mais velha do que ele.

Mr. Darcy teve uma idéia imprescindível ao analisar todas essas questões. Imediatamente largou a pena que já não usava mais, pois não conseguia se concentrar na carta que escrevia, levantou-se e foi até seu cofre.

Elizabeth estava com a pequena Charlote e a preceptora na sala de estudos lendo algum livro enquanto a filha pintava uma cesta de frutas, quando ouviu a porta se abrir.

- Querida, sairei uns minutos para comprar cigarros – anunciou seu marido.

Imersa que estava em sua leitura e na apreciação da sua pequena aprendendo mais um dos muitos dotes que ela não pode aprender na sua infância, Elizabeth Darcy apenas respondeu positivamente com um muxoxo, sem nem mesmo dar atenção a todas as implicações desastrosas daquele anúncio estranho e misterioso. Esses adjetivos, inclusive, nem mesmo passaram por sua cabeça no momento do enunciado de Mr. Darcy, mas ocorreram-lhe horas depois, quando já era noite e ele ainda não havia voltado.

Elizabeth estava em desespero. Os empregados já haviam voltado de Lambton onde não obtiveram nenhuma notícia de seu marido. Obviamente, o primeiro e rápido pensamento que passara por sua cabeça, quando a tarde começou a se estender sobre Pemberley e seu marido não voltara, foi que poderia ter acontecido alguma desgraça com ele, por isso mandara os homens em sua busca. Mas fora só eles saírem, e ela conseguir se acalmar um pouco para poder colocar seus pensamentos em ordem, que tudo pareceu mais claro. Era obvio! Seu marido não fumava, e mesmo que, por algum desses caprichos misteriosos e fúteis que atingem homens velhos e entediados, lhe tivesse, repentinamente, nascido tal vontade, ele mandaria algum empregado a comprar os objetos desse capricho.

Elizabeth teve confirmada sua suspeita com o retorno dos empregados, e uma repentina luz acendeu em sua cabeça; correu até o escritório de Darcy, onde ficava o cofre, e foi diretamente a ele. Ali estaria a confirmação de todas suas intuições sobre o caso. E, ao abri-lo, ela não teve surpresa nenhuma.

Continua.

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