segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma História Simples Três - As Histórias que Nos Contavam

Um homem de trinta e seis anos e outro de sessenta e cinco estão sentados em frente ao bonito fogão a lenha, de ferro fundido escuro e bem trabalhado. Eles sorriem e tomam chimarrão. Enquanto isso, o mais velho relembra algumas das histórias que contava àquele seu filho.
“Lembro de uma vez. Quando a gente ainda morava no interior de Santa Maria, eu acho. Não sei como um espelho apareceu quebrado em cima do telhado da casa, e teu vô me mandou subir pra limpar. Eu era o mais velho dos sete filhos e tinha de fazer essas coisas. Eu subi e comecei a varrer os caquinhos, pois estava bem quebrado. Bem espatifado. Foi quando tuas tias, não lembro, mas acho que era a Marcela e a Doris, mais umas amiguinhas delas, vinham vindo e viram aquelas coisinhas brilhantes caindo do telhado, e me perguntaram o que era aquilo. Eu disse que era o pedaço de uma estrela que tinha caído por aí. E que uma parte caíra no telhado. Elas olhavam desconfiadas para os cacos brilhantes no chão e não acreditavam. Daí uma delas, que era mais esperta, perguntou se não era um espelho e eu retruquei, mas como um espelho ia ter parado lá em cima? E elas, então, ficaram olhando pra mim, piscando com olhos assustados, mas acreditando na história da estrela.”

Ele ri gostoso, olhando para as mãos enrugadas sobre os joelhos e se arruma na cadeira para poder receber a cuia. E é a vez do homem mais novo falar:
“Tem as histórias da mãe, também. Mãe vem cá. Senta aqui e conta alguma coisa.”

Uma senhora também de sessenta e cinco anos traz um mochinho e senta-se entre os dois. Arruma os cabelos curtos e levemente grisalhos, e fica sem saber para onde olhar.
“Ah, mas eu nem tenho histórias. Desse tipo assim, eu não tenho.”
“Conta aquela das libélulas, então, mãe.”
“Mas aquilo nem história é. Era só uma brincadeira das crianças lá da rua. Quando os pais cortavam a grama, enchia de libélula nos pátios e nós saíamos a caçar. Depois que cada um tinha a sua, a gente amarrava uma linha nelas e depois soltava a libélula, e ficava segurando a linha. Às vezes ficava uma fileira de criança cada um segurando sua linha com uma libélula e vendo qual voava mais alto. Mas isso nem é história. Era só uma brincadeira nossa.”

Então, o velho ri e diz, com as bochechas repuxadas:
“Brincadeira malvada, isso sim.”

“Não é? Agora conta aquela da grama, querido.”

Ele da mais uma risada jogando a cabeça para trás e começa:
“Essa é boa. Isso era quando eu já estava noivo da tua mãe e era quem sempre arrumava e plantava o jardim do pai dela. E o teu primo Dinho tinha que ajudar. Era um mulecote ainda. Às vezes, ele tinha que passar um tempo comigo, metido nuns lodaçais danados, ajuntando terra e adubo. E depois ainda agüentar ficar plantando grama e flor no pátio da frente. Pra espantar um pouco o mau humor eu inventei que elas eram sensíveis e só cresciam bonitas quando plantadas com música, e que ele tinha de assoviar pra elas enquanto plantava por que se não elas não cresciam e ele ia ter de plantar tudo de novo. Daí ele se colocava a plantar e assoviar junto. E as tuas tias desatavam a rir do coitado que acreditava nas histórias. Um dia, a irmã mais velha dele, que já não acreditava nas minhas histórias, plantou uma flor num dos canteiros e não assoviou. Depois as flores tinham morrido e o moleque veio correndo pra mim pra dizer que a irmã não tinha assoviado enquanto plantava e por isso as plantas dela morreram.”

E mais uma vez ele riu gostoso ao acabar, dessa vez, acompanhado das risadas dos outros dois. Então, o homem mais novo se vira para o notebook sobre a mesa na frente deles e fala com o garoto que aparece na tela.
“E aí filho? Essas são algumas das histórias que eu ouvia quando criança. Tá bom assim, ou precisa mais?"
“Não pai. Tá bom. Brigado. Vou embora. Que fala com a mãe?”
“Não filho. Não precisa.”
“Então tchau pai.”
“Tchau filho. Beijo. Te cuida..."

Mas o garoto já havia desligado o skype após o tchau e deixado o homem com uma nítida sensação de frio, apesar do calor que do fogão à lenha emanava para toda a sala.

Redação da Escola

Era uma ves uma cidade um monte estranha. E um menino foi mora na cidade estranha. Um dia o menino entrou na rua onde morava. E na rua tinha monte de menina segurando linha com libélula na ponta.

O menino achou estranho. Ele foi pedir pra menina o que era aquilo. A menina disse:
- Nos somos bruxas. Nos fazemos meninos virar libélula. Agora nos tamos treinando as libélulas pra corrida das libélulas. Você não sabia?

O monte de menina riu do menino. Aí o menino ficou brabo com o monte de menina e foi embora.

O menino tinha um pai muito legau. E o pai do menino contava monte de história. O menino ajudava o pai fasendo tudo. Um dia o pai disse:
- Você tem um poder mágico. E você tem que assobiar pra grama quando planta ela. Pra ela crecer um monte e bonita.

Aí o menino assobiou e plantou grama. E o monte de menina riu do menino mais uma ves.

Um dia o menino teve uma ideia. E ele quebrou um espelho no teto da casa. E o pai mandou ele limpa. Aí o monte de menina viu e pediu o que era. E o menino disse:
- É uma estrela que caiu aqui.

Mas o monte de menina não acreditou e disse:
- Mentira. Isso é um espelho.

E o menino disse:
- Um espelho nunca ia cai aqui!

Aí o monte de menina ficou com medo. E o menino disse:
- Eu sou um bruxo que faz menina vira estrela. E a menina que ri de mim eu viro em estrela e derrubo lá de cima.

E o monte de menina ficou com medo e nunca mais riu do menino.

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