sábado, 16 de abril de 2011

Os Cigarros de Mr. Darcy - Parte II

II

Enquanto a carruagem seguia seu trajeto, Mr. Darcy pensava na resolução que havia tomado. O seu casamento era o último, entre todos os conhecidos, que ele imaginaria dar qualquer tipo de problema. Não porque tendemos a sempre achar que as coisas na nossa vida estão melhores do que na dos outros, mas porque realmente não via como sua paixão por Lizzy pudesse arrefecer.

Por exemplo, quanto a Bingley e Jane, ele já esperava que começassem a ter dificuldades assim que a vida adulta realmente os atingisse. Eram dois sonhadores românticos e ambos com personalidades muito fracas; logo estariam vivendo com problema de não haver um pulso forte que conduzisse a relação. Não o impressionou sua última visita ao casal, quando notou como mal podiam agüentar ficarem juntos no mesmo cômodo; havia algo como um fastio no casal. Bingley reclamou-lhe que não agüentava mais o silêncio e falta de imaginação da moça, enquanto para Lizzy, Jane protestou a falta de firmeza do marido e sua indisposição ao silêncio. Ainda assim, Darcy sabia que os dois permaneceriam juntos e arranjariam formas de melhorarem sua convivência, pois, justamente por serem fracos, não teriam coragem para tomar uma atitude mais drástica, assim como ele estava tomando. Ele sabia como as regras da sociedade pesavam sobre os ombros e a mente dos dois, mesmo que elas já tivessem mudado um pouco nesses anos todos.

Porém, podia dizer que Lydia e Wickham surpreenderam-no: o único casamento a ter realmente dado certo e se mantido firme; pareciam estar cada vez mais unidos. Tentava entender como, mas sua dificuldade em obter uma resposta dava-se pelo fato de não conhecer uma regra muito básica: todo homem, por mais incorreto, desregrado e interesseiro que seja, vai ser, um dia, amarrado por uma mulher que tenha as mesmas qualidades e, ainda por cima, seja muito apaixonada. E, por mais repreensões que pudessem recair sobre Lydia, era certo que ela havia se tornado uma mulher exatamente da estirpe mencionada. Sua paixão, seu gênio rebelde, que levava àquelas atitudes muitas vezes reprováveis, e sua alegria juvenil certamente a transformavam em uma parceira ideal ao rapaz. A única coisa que Darcy conseguia pensar sobre aquilo era que justamente as loucuras cometidas pela menina haviam mostrado a Wickham com quem ele estava tratando: alguém da sua espécie, o que, além de tê-lo feito apaixonar-se, ainda o deixou bastante comportado. Não podemos dizer que Darcy estava errado, pois sua dedução, de certa forma, é corroborada pela regra.

Darcy, ao chegar a uma primeira parada, achou que por mais que pudesse tentar encontrar desculpas, não havia nada que o isentasse da culpa por aquela situação. Lizzy não havia mudado seu jeito de ser, nem seus sentimentos para com ele. O problema era realmente a natureza do homem e o fato de ele não conseguir fugir dela.

Ao mesmo tempo, por uma dessas brincadeiras do destino, ou justamente por suas conjunções mentais tão próprias, Elizabeth Darcy refletia no mesmo ponto: por que, de todas as suas irmãs, justo com ela estava acontecendo aquilo? Afinal, ela sabia que no caso de Jane e Bingley seria apenas uma crise; o amor dos dois seria maior. Lydia não a surpreendera exatamente, ainda assim nunca os imaginara o casal ideal como eram agora, mas estava feliz com isso. Mary podia ter deixado sua mãe revoltada com aquela atitude, pois não era algo apropriado a uma moça, mas Lizzy – assim como seu pai – sabia que aquele era o único destino para ela: não casar, abandonar o lar para estudar por conta própria e sair viajando pelo mundo fazendo pesquisas científicas por lugares exóticos. E ela, afinal, estava feliz, agora, junto daquele inglês que viajava em um navio com nome de raça de cachorro. Como era mesmo nome do rapaz? Charles? Algo assim. Apesar de aquela situação causar certo escândalo, pois o jovem é trinta e dois anos mais moço do que ela, Mary havia garantido-lhe, em sua última carta, que a relação dos dois era como de irmãos, e que havia um respeito mútuo, entre dois amantes das ciências naturais.

Além disso, foi Mary quem salvou a situação de Kitty, que começava a ficar para titia, ao ceder um marido à irmã. Ele era um americano muito rico, também dedicado a estudos, com quem Mary teve algum tipo de relacionamento íntimo durante suas viagens, até decidir que casar era para outro tipo de mulher e que sua irmã mais nova certamente faria mais proveito de um marido. Apresentá-lo a Kitty e preparar o terreno para a união acabou sendo uma decisão puramente lógica. Tal casamento, por sinal, era o que Lizzy tinha menos notícias, pois eles, obviamente, moravam nos Estados Unidos, mas a última notícia dava conta de que estavam bem e com filhos.

Lizzy pensava nas suas irmãs e seus respectivos destinos não só pela situação em que se encontrava, mas também por conta da troca de cartas com Jane, através da qual tentava encontrar pistas do paradeiro de seu marido; sabia que o melhor amigo dele deveria saber algo. Porém, a última carta recebida causou mais revolta do que esperança em seu espírito, devido à parcimônia do cunhado para com o ingrato Mr. Darcy. E ela não podia mais esperar para escrever uma resposta a Jane.

Continua... (no próximo capítulo, a carta de Lizzy, e uma pista de Mr. Darcy)

2 comentários:

  1. Está acabando com o restinho do romantismo que existe em mim, afinal, Mr. Darcy é meu herói romântico preferido.

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  2. Davi, pelamordedeus, não me acaba com o tudo-de-bom Mr. Darcy! Espero que na próxima parte ele se redima...

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