Para animá-la, ele colocou Sprawl II, fez uma dancinha na frente dela e puxou-a para dançar junto. Então falou com ela sobre o futuro:
- Já imaginou que daqui a trinta, quarenta anos essa música vai tocar e nós, velhos, vamos dançar de forma ridícula, relembrando os velhos tempos e rindo?
Começaram a falar disso. Como seria? Não tentavam imaginar tecnologias, cidades, pessoas. Era muito difícil. Apenas música. Se fosse para guardar hoje as bandas que possivelmente iriam tocar como grandes sucessos do passado (daqui trinta, quarenta anos), quais seriam? Arcade Fire era certo para os dois.
- Radiohead – ela disse.
- Radiohead não se dança.
- Não sabia que tinha esse pré-requisito. MGMT.
- Sim. Esses sim. Edward Sharpe and The Magnetics Zeros.
- Só lançaram um CD e só você ouve. Não fizeram muito sucesso. Tem que esperar. Killer, com certeza.
- Artic Monkeys também.
- Swell Season.
- Opa. É exatamente a mesma coisa que Edward Sharpe.
- É difícil.
- Da música foram adiante. Como seriam os filhos deles? Onde morariam? Trabalhariam no que? Será que seriam bem de vida? De que perigos teriam que defender seus filhos? Quais tipos de problemas enfrentariam? Ainda existiria natureza para apreciar? E lugares históricos para visitar? Quais seriam as grandes descobertas ou revoluções? Será que ainda existiria alguma descoberta ou revolução a acontecer? O homem em Marte? O primeiro condomínio na lua? Shopping Centers submarinos? Como seriam os livros que comprariam?
- Ainda existirá? – ele perguntou.
- Acho que sim.
- E nós compraríamos?
- Acho. Não sei nossos filhos. Mas nós...
E se calou como se a pausa disse mais que a fala.
Continuaram. Quais meios de transporte usariam? Ainda seriam necessários? Imaginaram cidades tão grandes e tão populosas que ninguém mais iria percorrer grandes distâncias. Todos iriam apenas viver no seu pequeno subúrbio onde existira tudo.
- Aí. Não diz isso, querido.
- Seria como um retorno a antigamente. Grandes feudos futurísticos.
- Tem gente que acredita que a história é cíclica. Será?
- Talvez nós sejamos a geração a descobrir e vivenciar.
E os filmes? 3D? A tecnologia já era certo. Já está a caminho. Mas e as tramas? Que tipo de histórias seriam contadas? Ainda existiriam histórias a serem contadas? Como seria a beleza das atrizes? Magras ainda? Ou gordinhas novamente? Quais seriam as opções de emprego? Haveria? E as roupas? Tecnologia? Nanotecnologia. E o que viria depois da internet? Será que viria alguma coisa?
- Meu Deus! – ela exasperou-se, querendo soltar-se dele – Prefiro não pensar. Dá um desespero! Parece que tudo está acontecendo tão rápido que nem vamos conseguir chegar lá.
- Será que vamos? – ele perguntou e abraçou-a com todo o ardor do seu corpo e espírito, como que querendo aproveitar o máximo de tempo que lhes restava.
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