quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Terreno Baldio da Adolescência

Esse conto será dividido em partes, pois é meio longo. Como ele não foi escrito para ser assim, seriado, talvez fique meio estranho alguns dos cortes, mas vou tentar suavizar essa estranheza. Espero que gostem. Boa leitura e divirtam-se.
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“Who am I?” – Perguntou o sábio Peter Parker em Homem-Aranha 1.

A mesma pergunta que me fiz dia desses, sentado na privada de casa. Eu li meu nome escrito naquele pano no meio das canelas e pensei: vinte e cinco anos e minha mãe ainda marca minhas cuecas pra não trocar com as do pai. Pior! minha mãe ainda compra minhas cuecas!

“Que merda!”, pensei. E dei a descarga.

Fiquei lembrando uma aula de Cultura e Sociedade. Um papo que rolou sobre o que é cultura: essa história de Freud, superego e identidade cultural. O negócio de que somos definidos pelo o que a sociedade nos impõe, esse tipo de coisa. Pus pra tocar a música que sempre me pareceu trilha da minha adolescência: Baba O’Riley do The Who (http://www.youtube.com/watch?v=hKUBTX9kKEo). Pra mim é um dos hinos do rock. Umas das músicas com mais energia que eu já ouvi. Porra que refrão! E que se dane aquele papo de Vietnam. Pra mim, a música é sobre a adolescência. É sobre passar pela adolescência. Nesse ano (2007), muita coisa estranha aconteceu durante e depois do mês de outubro. Daí que fiquei pensando muito: “quem sou eu? Uma mistura de Chaves e Chapolin, rock’n roll e Sessão da Tarde?”

Foi aí que resolvi escrever. Dizem que quem escreve tenta responder perguntas. Achei que podia responder a minha. Só que não sou escritor. Escrevo textos sobre rock e história do rock pra um site, mas não me considero escritor. Também não tenho pretensão de ser. Acho muito difícil. Escrever pra mim é um parto. Quem sabe se eu tivesse composto uma música? “I'll sing my song to the wide open spaces” (http://www.youtube.com/watch?v=tFaFlJpB3Qg). Talvez me expressasse melhor. Ou não. Compor é difícil. Sei tocar a música dos outros, mas não compor. O negócio é que eu não sou artista mesmo, e só escolhi escrever porque pra isso você só precisa saber a sua língua. O que eu acho que sei. Quer dizer, mais ou menos.

Mas talvez não seja só isso. Tem muita outra coisa. Por exemplo, o problema já é achar um começo. Bom, eu nasci num agosto. Estava frio, e minha mãe preferiu parto normal. Se bem que isso não quer dizer nada. A não ser pelo fato de que o cara que nasce em agosto não pode esperar muita coisa da vida. Mas acho que meu nascimento não interessa. Não vou voltar tanto assim.

Nossa infância foi normal. A gente era uma turma legal da escola e do bairro. Começamos a curtir o bom e velho rock’n roll clássico e fizemos uma banda logo cedo. Quem trouxe isso pra nós foi o Dumas. Ele era O Cara! Primeiro foi dono de uma garagem com vários vídeos-games onde a gente jogava pagando por hora, além de se reunir pra ouvir rock e falar de rock. Depois foi dono do bar mais incrível do mundo. Nós tínhamos também a escola, o futebol na rua, os filmes e revistas proibidas e muita fita K7 gravada. Ah! por falar nisso tudo, nós tínhamos, é claro, o terreno baldio. Ele ficava na esquina da rua onde eu moro e foi onde muita coisa aconteceu. Pra ele eu posso dizer: “ah se esse terreno falasse”, sem medo do meu herby ficar com ciúmes. Esse terreno viu todo nosso crescimento humano e musical, e até um pouco do sexual. E passamos nossos anos de colégio assim: músicos, desocupados e despreocupados que só se interessavam por música, vídeo-game, cinema, futebol e mulher. Ninguém pensava no futuro.

O futuro só apareceu quando já era presente (esse sem vergonha). Foi quando acabou o terceiro ano, e todo mundo teve que cair na real da faculdade. O que fazer? Alguns foram no instinto, outros por chute. Só o Ivan foi por certeza. E o mais engraçado era que, aquele tempo todo, a gente tinha vivido de música (vivido não no sentido de se sustentar, mas de só fazer isso), mas na hora de decidir o futuro, todo mundo sabia que não seria a música. Todos menos o Firula, que achava que ia ser guitarrista solo e vender CD (“ninguém compra CD de guitarrista, a não ser guitarrista” a gente dizia pra ele). Já eu escolhi por algum tipo de gosto mesmo. Fiz aqueles testes vocacionais, e saiu que eu era comunicativo e criativo, e podia ir para a área da comunicação. Mas isso saia pra todo mundo que estava em dúvida e que não tinha uma aptidão de verdade pra alguma coisa. Daí, como eu gostava de Idade Média, foi um pulo: história. Tem mais que se fudê mesmo! Como se a coisa fosse só estudar Idade Média. Pelo menos o Diógenes também achou que Arquitetura era só ficar desenhando, e o Firula que Música era só ficar tocando. Acabou que em alguns anos só o Ivan estava formado, e o resto arrastava a faculdade sem animo e se virando como dava. Quando eu vi, nós estávamos bêbados no bar reclamando da faculdade, eu encarei o Peralta e parafraseei o Bob (só que na minha cabeça, era na versão do Jimmy, claro): “There must be some kind a way out of here”. Nós não estávamos agüentando aquela draga de vida universitária.

Mais ou menos assim a coisa estava. A banda ainda fazia uns shows por aí, principalmente no Penelope (o bar mais incrível do mundo), a gente ainda se encontrava em qualquer lugar pra ensaiar, mas ficava mesmo era jogando papo fora (“pra que época mágica do rock tu ia se tivesse um Deloren?”; “qualquer banda com Jimmy Page e mais guitarristas iria fracassar, a não ser o Black Crowes, mas só porque os caras queriam ser o Led”; “Chaves é melhor que Chapolin”; “Duane Allman é melhor que qualquer guitarrista americano, menos o Hendrix”; “Lynyrd Skynyrd é mais importante que The Allman Brothers”; “não gostar de Southern Rock atual não é birra é respeito às origens”; “rock brasileiro é só o Rauzito”; “mulher só é problemática porque em vez de ouvir rock, beber uísque e fumar elas preferem ouvir Madona, Beyoncé e ir no shopping”; “Miss You é boa música pra transar, mas chapado é melhor com Since I’ve been loving you”, “fujam-no! Ele está agarrando!”); além de beber e se xingar.

Tá. Mas agora até eu me perdi. Isso não foi um começo. Só um baita de um remember. Que tal tentar começar apresentando?
Esses eram, mais ou menos, nós, nos primeiros anos de faculdade. Os mesmo quatro da escola (Diógenes, Firula, Petranha e eu) mais o Peralta, um segundo guitarrista que o Diógenes conhecia.

Ok, ok. Isso ainda não é bem um começo também. Mas já pensei em algo. Seria legal começar por uma música. Uma que marcou. Já falei em Baba O’Riley, mas talvez tenha outra. Você conhece esse riff?

Na escola começamos como uma banda punk porque era mais fácil, mas já curtíamos rock. Conforme fomos nos aprimorando, passamos a arriscar mais. Nos tornamos basicamente uma banda cover de Creedance, mas só porque o baterista não era lá dos melhores (nesse caso, eu). Mas conforme o show rolava, até um Led e Stones era arriscado. E um AC/DC, claro, o que também não exigia muito.

Ok, mas essa também não é ainda a música definitiva. Talvez seja essa, então:
Tá certo. Essa é legal, mas quer saber? Ainda não é a música definitiva pra essa história. E também já nem sei se é bem uma história. Se fosse, teria que ter um começo, meio e fim. Mas já gastei algumas páginas e ainda não consegui achar um começo. E também to achando que uma música só não dá. Quem sabe passo logo pra uma lista? Posso fazer a lista que servirá de trilha sonora pra história. Isso. Boa. Vamos lá...

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A lista e a segunda parte da história, que nem mesmo teve um início decente ainda, virão no próximo post. Aguarde. Abraços.

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