quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Terreno Baldio da Adolescência - Parte VI

Eis que chegamos a penúltima parte da história. Após sofrer relembrando a queda do avião da sua banda preferida, descobrir que seu irmão virou emo, perder seu grande mentor e, finalmente, sair com a garota por quem estava apaixonada, será que a vida de Pedro vai começar a fazer sentido? É o que vamos ver agora.
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O mês de novembro chegou e com ele nossa relação atingiu um novo nível. Finalmente dormimos juntos, e foi ótimo. Realmente muito bom pra primeira vez. Pra primeira, segunda e terceira, porque a primeira noite juntos tinha que colocar pra quebrar. Depois da última, caímos exaustos na cama dela e ficamos abraçados.
- Você tava realmente a fim. Ela disse.
- Depois dessas semanas de espera. Não que eu esteja reclamando. Eu concordo contigo que é bom esperar pra ter a primeira transa, se a gente quiser que dure.
- Ah. Você acreditou nessa desculpa?
- Desculpa?
- Eu tava menstruada e não queria dizer, bobinho.
- Ah. Mesmo? Então a história de querer que dure.
- Isso é verdade. Mas eu não sei se acredito que tenha que esperar pra transar. Você acredita ou tava só concordando comigo?
- As duas coisas - eu respondi e a enchi de beijos.

As coisas estavam ficando muito bem entre ela eu. Combinamos de, na escola, manter em segredo nosso namoro, pelo menos por enquanto. Não tinha realmente muito problema, mas ela queria esperar um pouco porque não fazia nem um ano que ela trabalhava lá. Achei válido.

Parecia que as coisas estavam melhorando, e estavam mesmo. Mas ainda tinha algo que me preocupava. Era a minha faculdade. Eu estava realmente tentando achar um jeito de gostar do que eu estava fazendo e de me ver como um professor no futuro, mas não dava. Rosana também percebeu que eu estava incomodado. Ela tentava me ajudar, dando algumas dicas e conselhos, mas nada estava resolvendo. Até que certo dia ela me disse algo que me abriu os olhos. Não só pra eu resolver mudar, mas pra uma outra idéia genial. Foi um dia em que estávamos conversando sobre música, e eu comecei a expor minha teoria sobre o rock. Eu achava que como o rock havia sido inventado nos Estados Unidos, sua língua natural era o inglês. O que combinava com sua musicalidade era essa língua e nenhuma outra.

- Por isso só da certo banda que toca rock em inglês. Mesmo que não seja americana – eu concluí. Tudo porque ela estava tentando defender o rock nacional. – Não estou dizendo que rock em português não seja bom. Mas só o Raul e olha lá. Acontece que não combina a língua com o ritmo.

Como ela ainda não parecia muito convencida, pois achava que Engenheiros, Legião, TNT, Garotos Podres e Ira eram muito boas e eram rock, eu continuei:

- Veja o samba e a bossa nova. Não foram inventados no Brasil? Então, combinam com o português. Mas tenta cantar em outras línguas. Por isso que fica horrível aquelas versões em inglês da Garota de Ipanema.
- É. Talvez... – Ela disse e ficou pensando um pouco. E depois de alguns segundos de silêncio – Nossa!
- O que? – eu perguntei intrigado com o olhar dela pra mim.
- Você gosta tanto de falar sobre música. E também conhece tanto sobre. Por que não investe nisso?
- Já disse que a gente desistiu de ser músico profissional.
- Mas não precisa ser músico profissional. Você pode ir pra área da comunicação. Larga história e vai fazer jornalismo. Quem sabe vai pra área cultural. Você gosta tanto de cinema também. Quem sabe você consegue até ter um programa de rádio. Um blog.
- Será? Parece legal. Mas trocar de curso assim? Com vinte e cinco anos?
- E daí? Vai se formar primeiro pra depois querer mudar? Você não curte o que tá fazendo.
- Isso é verdade. Vejamos: começo ano que vem. Com uns vinte e nove, trinta me formo. Mas como não precisa de diploma pra começar a trabalhar na área, posso até começar agora. A idéia do blog é boa.

Ela sorriu com minha empolgação, me beijou e foi terminar de tirar a mesa. Eu fiquei alguns minutos pensando, e já me via fazendo um monte de coisas legais envolvendo música. Foi quando eu tive a segunda idéia. E ela me colocou de pé. Eu olhei pra Rosana, sorri, dei um beijo nela e disse:

- Você é um gênio. Casa comigo.

Ela ficou espantada olhando pra mim, mas eu logo já saí e fui telefonar. Tinha que começar a por minha idéia em prática. Saí de lá cantarolando “To everything, turn, turn, turn There is a season…”, a nova música do meu despertador.

Vocês têm que saber que eu não tinha esquecido aquele meu plano de homenagear o Dumas. Logo depois que eu comecei a namorar, inclusive, a idéia continuava lá e tomava mais força. Cheguei a rabiscar um projeto e falei com um amigo do meu pai, que trabalhava na prefeitura, mas ele me desencorajou. Disse que não tinha nenhum lugar na cidade pra se fazer esse tipo de coisa. E que isso exigia investimento. Mesmo os caras da banda curtiram a idéia, mas acharam que era loucura. Ninguém estava me entendendo. Talvez eu estivesse expondo a coisa de forma errada. Eu não pensava em uma coisa megalomaníaca, mas um festival simples e divertido.

Quando Rosana me convenceu que eu devia tomar uma atitude quanto à minha faculdade, eu também percebi que nesse caso havia uma solução. A idéia nasceu de uma forma inesperada, mas era óbvia. Peguei meu celular e liguei pro Ripa, porque sim, apesar de tudo, nós ainda mantínhamos contato com aquele pobre coitado. Por incrível que pareça ele trabalhava em uma serraria (sim, eu sei que parece um clichê ridículo, mas não posso fazer nada, é a vida real) e não tinha o menor escrúpulo em nos ajudar. Falei com o resto do pessoal, e eles curtiram.

Duas noites depois, só dava cabeludo e ex-cabeludo passando com madeira nas costas, saindo da serraria e levando pro terreno baldio da minha rua. O Diógenes usou a Kombi e eu o fusca. No dia seguinte, cortamos um pouco da grama do lugar e deixamos as madeiras escondidas pra montar o palco no sábado.

Essa era minha idéia: iríamos fazer o festival em homenagem ao Dumas ali mesmo, naquele terreno emblemático. O único lugar do mundo que poderia receber uma verdadeira homenagem ao Dumas. Se havia algum canto naquela cidade que podia se sentir digno da podreira rock and roll do nosso amigo, esse lugar era o terreno baldio.

Eu descobri que o terreno pertencia à prefeitura e fui até lá expor minha idéia. Recebi um não e uma cara feia, um não e duas caras feias, um não e três caras feias, nessa respectiva ordem em cada instância. Fiquei fulo da vida e larguei um: “Puta que pariu ninguém sabe respeitar a memória de um ícone nessa merda de cidade?” Acabei saindo de lá sob olhares reprovadores, e com o segurança já com a mão no cassetete. Mas já estava resolvido que sairia essa homenagem de um jeito ou de outro. E como nos fins de semana nada naquela porra funcionava, nem mesmo a vigilância pública, marcamos o festival pra dois domingos antes do natal.

Conseguimos que nossa banda tivesse três guitarristas e um tecladista, e iríamos tocar Lynyrd. Teria mais uns amigos que iam tocar Led, Neil e Jimmy. E de última o Tito ainda disse que vinha com uns amigos tocar B.B. King.

No sábado, enquanto montávamos tudo, meu irmão viu aquela função no terreno da rua e veio me pedir o que estava acontecendo. Não precisava ser muito esperto pra entender o que estava acontecendo, e ele achou aquilo o máximo. Pediu se a banda dele podia tocar. Eu perguntei se eles sabiam tocar alguma coisa que fosse rock de verdade. O problema dessa gurizada nova é que, além de serem uns bostas, são uns bostas com orgulho, porque ficou todo ferido com a minha pergunta dizendo que aquilo era preconceito e tal. Eu nem me estressei. Virei as costas e voltei à função. Mais tarde ele veio todo sentido me pedir desculpas e dizer que a banda sabia tocar Ramones. Sim. Toda banda sabe tocar Ramones. Achei que pelo menos podia ajudar a aumentar o público e disse que eles tinham que trazer gente. Ele ficou todo faceiro, e por um momento achei que ia me abraçar, essas sentimentalidades de emo, mas apenas sorriu e saiu. Eu ainda gritei pra ele: “O primeiro acorde emo que ouvir vamos cortar os dedos de vocês!”

Mas ele apenas fez um ok com o dedo e continuou o caminho.

Sábado à noite estava tudo pronto, e no domingo seria o festival. Na segunda tudo já estaria desmontado, e ninguém na prefeitura iria ficar sabendo de nada. Pedi pra Diva fazer uma propaganda no Penelope só no sábado à noite porque divulgação com tempo de antecedência levantaria suspeita. Todos nós combinamos de avisar o máximo de gente possível, e até mesmo a Rosana prometeu trazer umas amigas.

Ela mesma estava bastante orgulhosa de me ver envolvido em algo daquele jeito. Eu disse que ela ia ficar mais orgulhosa ainda quando visse outra coisa e mostrei pra ela um texto que eu tinha escrito, falando de algumas bandas de rock e homenageando o Dumas. Eu ia entregar pro Tito pra ele ver se conseguia publicar num site de rock famoso que ele tinha contato. Ela ficou realmente feliz, e, véio, eu não posso descrever a noite de sexo que nós tivemos. Nossa!

No dia seguinte ocorreu nosso festival...
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Olha só! Não é que o namoro fez bem ao nosso amigo? Ele finalmente agiu, saiu da inércia em que se encontrava sua vida e fez algo que preste. Será mesmo que prestou? Na próxima e última parte veremos como foi o festival, as consequências dele na vida de Pedro e o fim de sua história. Até lá.

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