domingo, 16 de dezembro de 2012

O Terreno Baldio da Adolescência - Parte VII

Então, depois de tudo, ou melhor, quase nada, que aconteceu na sua vida, Pedro parece ter feito alguma coisa. Chegamos a parte final da história e iremos descobrir se ele realmente encontrou um rumo.
-------------------------------------------------------------------------------------
No dia seguinte ocorreu nosso festival. Não estava lotado, mas tinha bastante gente. Muito mais do que eu esperava. O suficiente pra atrair o tio do cachorro quente e o tio da pipoca pra entrada do terreno. O Ripa circulou com um isopor vendendo cerveja, refri e água.

A banda do meu irmão abriu e eles se comportaram. Tocaram só Ramones e até um Offspring das antigas que eu até aturava. Depois veio os parceiros com Led Zeppelin, Neil Young e Jimmy Hendrix. Eles colocaram o pessoal pra sacolejar. Até mesmo as amigas da Rosana estavam balançando os longos cabelos, e olha que elas não eram desse tipo de som. Rolou até AC/DC, Van Halen, e uma loca cantou Joplin. O Tito e sua banda deixaram todo mundo arrepiado com o B.B.King. Eles eram mesmo muito bons.

Daí foi a nossa vez. Tocamos Lynyrd como nunca antes. E foi maravilhoso. Ver aquela galera delirando ao som de Call Me The Breeze foi muito foda. E eu imaginei o Dumas lá em cima batendo cabeça e chamando a galera de túnica branca pra quebrar tudo. Encerramos, claro, com o hino de todos os roqueiros que partiram dessa pra melhor: Free Bird. E eu só não tive um treco porque tinha que me concentrar na batera. Mas foi muito emocionante. Isso até fez a banda voltar a sentir o que era fazer show e querer voltar mais a ativa. Combinamos de voltar a nos reunirmos para tentar achar mais horários pra shows.

O festival ainda teve algumas falas de gente importante, a Diva, o Tito, alguns amigos mais velhos do Dumas, todos lembrando o cara. Terminou tudo lá pelas sete, e como era horário de verão, desmontamos e limpamos tudo antes de escurecer.

Depois, o pessoal da organização foi pro Penelope, onde a Diva tinha preparado uma janta pra gente. Comemos, bebemos e descansamos enquanto riamos e comemorávamos o sucesso. Estávamos um mais cansado que o outro, mas muito realizados. Daí eles começaram a me agradecer e me homenagear pela idéia e pela iniciativa. A Diva até me abraçou emocionada e disse que o Dumas ficaria muito feliz, apesar de que iria xingar todo mundo e tentar disfarçar. Nós rimos. Eu disse que aquilo tudo tinha que ser agradecido à Rosana, e ela ficou toda sem jeito. Eles brindaram a ela, e agora minha namorada já fazia parte da turma também.

Foi só depois disso que minha vida mudou. O meu texto foi publicado no site, e eu fiquei conhecido na cidade por causa do festival. Comecei a cursar jornalismo, criei um blog de rock especializado em southern rock e a banda voltou a fazer shows. Eu criei uma espécie de sarau no Penelope, toda quinta. Misturando música, cinema e literatura. Claro que a Rosana me ajudava muito, porque ela já tinha lido mais do que eu, e porque ela conhecia o pessoal do teatro e podia trazer aquelas performances e tal. E todo esse trabalho nos deixava cada vez mais juntos.

Hoje, estou com vinte e oito, quase formado, mas já tenho um programa de rádio, meu blog faz sucesso e ainda escrevo pro jornal da capital de vez em quando. Claro que tive de abrir meus horizontes musicais, mas nunca disse que não conhecia outras coisas, apenas não curto. Além disso, saí da casa dos meus pais. E adivinha onde eu moro? Isso mesmo. No terreno baldio. Comprei da prefeitura e construí minha casa lá. Dessa vez eles deixaram porque tinha projeto bonitinho até assinado por arquiteto. Rosana e eu vamos nos casar ano que vem, e já estamos planejando nosso primeiro filho. E no final de tudo, eu realmente tinha de seguir o velho e bom conselho: ache uma mulher e seja um homem simples.

-------------------------------------------------------------------------------------
Pois é pessoal. Parece que no meio dessa bagunça e prolixidade Pedro conseguiu contar sua história. Se conseguiu dizer alguma coisa, não sei. Vale lembrar que esse último parágrafo foi anexado à história três anos depois de ele a ter escrito. Segundo o que me contou, fez isso porque, relendo o texto, achou que faltava um final. Como não conseguia encontrar um final mais "literário" (não sei o que ele queria dizer com isso), acabou apenas escrevendo o que aconteceu com ele depois do ano de 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário